A "bolha"

Quem é que nunca ouviu a pergunta "mas você vai criar seus filhos numa bolha?"?

Bem, vamos lá. Eu gosto de entender o que as pessoas estão me perguntando.

O que é uma "bolha"? 

Repito: O que é "bo-lha"? Você sabe explicar? 

Novamente (porque não podemos responder a essa pergunta sem saber o que ela está dizendo): O que é essa "bolha"? O que significa "bolha"? 

Eu já falei em outros posts que a pergunta da socialização deve ser sempre devolvida, pois o verdadeiro grande "problema" da socialização é que a pessoa que fala sobre socialização não sabe o que ela é. 

Aqui temos a tal "bolha", que ninguém nunca define ou explica. É apenas uma expressão curinga, que não significa nada palpável, servindo apenas para expressar uma sensação ruim, uma má impressão sobre a forma como você, pai educador, vive. 

Quando você ouvir a palavra "bolha", entenda: a pessoa que conversa com você não concorda com a forma que você vive e, numa argumentação racionalmente preguiçosa (na maioria das vezes, inconscientemente), ela usa a carta da "bolha". 

Você não soube responder o que é "bolha", não é mesmo? Provavelmente sua resposta começou com sei lá ou não sei. Ou talvez você tenha dito "é uma vida fora da realidade, uma vida que não existe". 

Muito bom. A realidade, as palavras e o seu significado importam muito quando buscamos a verdade. Encontramos um ponto de partida. 

O que é uma "vida fora da realidade" ou "uma vida que não existe"? Se alguém está vivendo uma vida, esta vivência já é uma realidade e ela já existe.



Há dois motivos para que alguém fale em "bolha" como algo fora da realidade:

1. Normalmente, a pessoa preocupada com a tal "bolha" não frequenta os mesmos ambientes que você, não ouve as mesmas músicas, não lê os mesmos livros, não tem as mesmas opiniões, não convive com as mesmas pessoas. Ela acha você esquisito (ela não perguntou o que você acha dela, perguntou?). E a todo esse conjunto de fatores reais e objetivos nos quais ela não vê valor nem vantagem, ela apelidou de "bolha"

Bem, aqui temos apenas uma divergência de opiniões. Eu não falaria em "bolha". Eu falaria "cada um no seu quadrado" ou, como dizia meu avô, cada qual com seu igual

Eu sempre evito postar coisas pessoais, porque pode parecer a alguém que estou dando indiretas, o que definitivamente não é meu estilo. Escrevo apenas para dar fundamentos aos que genuinamente querem entender o homeschooling e nossas razões. Utilizarei um exemplo que tem sido assunto no nosso convívio nos últimos tempos. 

Meus pais adoram TV aberta. Eles têm TV a cabo e Netflix, mas eles praticamente só usam TV aberta. Eu cresci vendo televisão sem absolutamente nenhum filtro, como quase toda criança das décadas de 80 e 90. Eles nunca me ensinaram a ter um olhar crítico sobre qualquer coisa da programação. Apenas ligar, se sentar e assistir com o cérebro em stand by

Um belo dia eu assisti um filme sobre o livro 1984, que me causou uma impressão profunda sobre a forma como os meios de comunicação eram usados para manipular e adestrar as pessoas, massificando-as e às suas opiniões. Por conversar com primos, irmão e amigos mais velhos, eu já havia percebido que a televisão utilizava formas de manipulação de massas. Mas naquele dia tudo ficou mais claro para mim. E desde então eu não assisto muita televisão. Eu fico profundamente incomodada com ruído de TV ligada enquanto as pessoas conversam. E, obviamente, não é algo que eu fique impondo sobre os demais à minha volta. Mas falo disso com naturalidade, porque é minha visão, meu gosto e cada um tem o seu.

Eu tinha 13 anos nesta época. E era completamente avessa a religiões. Minha mudança de hábito não teve nenhuma relação com deus nenhum, apenas com minha visão de mundo. Hoje estou perto dos 40 e sou cristã católica. Vivo assim, alheia à programação televisiva, portanto, há quase 30 anos. 30 anos leve, solta, brilhante e furta-cor, flutuando por aí ao sabor dos ventos! Estou sobrevivendo bem a isso. A única coisa que se tornou mais difícil para mim foi criar laços estreitos de amizade com pessoas superficiais.

Percebo que, para muitos, é errado não gostar de TV e um sinal de desequilíbrio e inadequação social ter uma visão crítica e questionadora sobre a sua programação, de tão acostumados (viciados...?) que os brasileiros são à TV e ruídos constantes.

Essa sensação não se deve à realidade, mas ao fato de que buscamos viver com pessoas iguais a nós. 

Entre as pessoas com quem convivo e os amigos que eu tenho, é absolutamente excepcional assistir à TV aberta e absolutamente natural, um padrão comum (quase obrigatório) refletir sobre as informações que se recebe. Portanto, veja bem, esta é a minha realidade. Somos pessoas de carne e osso que vivem suas vidas dessa forma, não somos bolas furta-cor, feitas de água, sabão e ar. Se somos a maioria, se somos admirados pela maioria, aí já é outro ponto, outro motivo para se falar em bolha... 

2. "Educar numa bolha é educar seu filho fora da realidade do mundo, fora da realidade em que ele vai viver". 

Nessa afirmação há duas premissas: i) a educação precisa mostrar desde sempre tudo o que existe no mundo e acostumar a criança à média da população, se não ele não saberá conviver com isso na vida adulta; ii) seu filho, quando adulto, vai necessariamente, viver como a média da população.

Sobre a primeira premissa, de que se deve acostumar a criança à média da cultura do mundo e a tudo que existe de ruim, apenas porque isso tudo existe e um dia seu filho vai saber que existe, eu digo uma coisa:
Que tremenda hipocrisia!

Ninguém ensina sobre todas as possibilidades morais a uma criança, a não ser que queira criar uma criança completamente ansiosa, amorfa e neurótica.

Se existe alguém que goste de funk pra criança, vou desde sempre acostumar meu filho a ouvir pornografia, se vestir de tapa sexo e quicar até o chão. No dia seguinte, vamos viver a castidade, pois também há quem viva a castidade. Se existe alguém que ache natural a criança ser vegana, vou fazer o dia vegano em casa. Se existem famílias amish e judias, vou fazer também o dia amish, depois dia judeu. Cada dia uma moral diferente vai ser a boa. 

Isso seria um amontoado de baboseira irrefletida e só uma opinião pouco ruminada pode concluir tal coisa. Crianças precisam de segurança e diretivas claras, não de uma moral esquizofrênica. 

Sobre a segunda premissa, de que seu filho necessariamente vai viver como a média da população, acho que já está bem explicado que existem pessoas diferentes da média da população. Elas trabalham, estudam, passeiam, riem, namoram, vão à academia como qualquer um. 

Ainda sobre essa segunda premissa: que desejo medíocre querer que um filho seja como a média das pessoas! Sobretudo porque a média vai cada vez pior. 

A maioria das pessoas religiosas que estão numa missa, num culto, não vivem sua fé direito, a maioria dos estudantes não estuda direito e por aí vai. A maioria não deveria ser exemplo de nada para ninguém. Que nosso esforço seja sempre o de dar aos nossos filhos o melhor que pudermos.

Para nós, cristãos, o melhor que podemos dar à nossos filhos é também o que Jesus ordenou a todos os que crerem que Ele é Deus: amar a Deus sobre todas as coisas, com todo o coração, toda a alma, todo o entendimento (não apenas amar a Deus uma hora por semana durante a missa de domingo), ser santo como o Pai do céu é santo. 

Trocando em miúdos, quando alguém fala em criar o filho numa bolha, ele provavelmente está preocupado com que seu filho um dia de torne alguém tão diferente dele quanto você... 

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