O que o cristianismo fala sobre educação dos filhos?

Antiga Aliança

Logo após Moisés apresentar aos hebreus os 10 mandamentos que ouviu de Deus, ele explica ao povo que aqueles mandamentos devem ser seguidos com atenção e constância, explicando como se joga um jogo cujas regras acabou de citar.

No capítulo seguinte, o sexto do livro do Deuteronômio, Moisés se põe a explicar de novo os mandamentos que acabou de ler. Para um leitor desatento, poderia parecer mais do mesmo ou encheção de linguiça. Pelo contrário, aí está uma breve explicação do significado prático da letra da lei – segundo a primeira manifestação da lei de Deus ao seu povo.

O trecho em questão é apelidado de “Shema, Israel” (‘Ouve, Israel’ na língua original) e é tão importante que os judeus tradicionalmente o decoram ainda novos.

“Escuta, Israel! O Senhor, nosso Deus, é o Senhor que é UM. 
Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração,
com todo o teu ser,
com todas as tuas forças.
As palavras dos mandamentos que hoje te dou
(...) tu os repetirás a teus filhos,
tu lhes falarás deles quando estiveres em casa
e quando andares pela estrada,
quando estiveres deitado e quanto estiveres de pé"
(Deuteronômio 6, 4-9)


De todas as tuas forças

Nessa passagem Deus parece nos indicar expressamente pela primeira vez qual a sua vontade na educação dos pais pelos filhos. O primeiro direcionamento está nesse trecho.

Antes de tudo, é preciso perceber que Deus nos pede que o amemos com todas as nossas forças, com tudo que somos e temos. Isso necessariamente inclui nosso intelecto.

Tão profunda deve ser a nossa ligação com Deus que, para cumprir o seu primeiro mandamento, devemos carregá-lo no pensamento, em nossas ações, em tudo que fazemos, em todo nosso dia. 

Deus não se limita a dizer que devemos amar a Deus com nosso trabalho e nossas ações. Deus continua dizendo (e note-se que é Deus que fala, não Moisés) que não basta aos pais viver os mandamentos, é preciso inculcá-los aos filhos (algumas traduções falam não só em "ensinar", mas em "inculcar", que também pode significar fazer aceitar).

Assim, Deus quer que os pais ensinem aos filhos a lei de Deus. Ou seja, na opinião de Deus, “dar o exemplo” não é o bastante e os pais são responsáveis por ensinar sua fé aos filhos em toda a riqueza que ela abrange.

Vemos também que Deus não menciona ninguém além dos pais como sendo os responsáveis pela inculcação de valores religiosos nos filhos. Nada se fala sobre catequistas, pastores, padres etc. Apenas os pais.


Nova Aliança
Jesus

Jesus nos dá poucas, mas muito claras, indicações sobre a relação das crianças com Deus.
Numa ocasião em que um grupo de crianças tenta se aproximar de Jesus, os apóstolos as afastam, provavelmente por imaginar que o que Jesus ensinava não era assunto para crianças. Jesus, porém, diz: 

“Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais,
porque o Reino dos Céus é daqueles 
que a elas se assemelham” 
(Mt 19, 14)

Duas mensagens importantes estão nessa fala: 

1. Religião não é assunto de adulto, é de todas as pessoas de todas as idades; 
2. Para ser digno de receber a graça de Deus é preciso ter alguma característica que é típica da infância.

Sobre o ponto 1, como era de se esperar, Jesus não contraria a lei de Deus revelada em Moisés. As crianças devem ser levadas ao encontro de Deus sim. Devem conhecê-lo, devem saber que ele as ama, as abençoa e que quer estar com elas.

Sobre o ponto 2, nada me parece mais típico na criança do que a inocência, aquele misto de segurança com confiança que a criança tem na sua relação com os adultos, com os pais, com as pessoas de modo geral. Enfim, a ausência de malícia. Precisamos dessa abertura fácil e rápida para nos relacionarmos com Deus. As crianças confiam com facilidade. 

Ainda sobre a inocência das crianças, Jesus falará novamente, porém de forma mais clara, em outra ocasião.

Ao ser perguntado pelos apóstolos quem será o maior no Reino de Deus, Jesus pega uma criança pequena no colo e diz:

“Se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas,
não entrareis no Reino dos Céus. 
Aquele que se fizer humilde como esta criança 
será o maior no Reino dos Céus” 
(Mt 18, 1-4)


Esta passagem é riquíssima e seria muita pretensão tentar esgotar seu significado, mas nos importa notar que ela ressalta novamente aquilo que é próprio da criança – entre tantas outras coisas, vamos analisar a sua inocência – como uma característica importantíssima para se colocar na presença de Deus. 

Novamente vemos que religião não só não é “coisa de adulto”, como também as crianças de modo geral são muito mais abertas a receber a luz de Deus do que os adultos. E são exemplo em algo para nós.

A frase que vem em seguida é a que mais nos importa:

“E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe. 
Mas, se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que creem em mim,
melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho 
e o lançassem no fundo do mar” 
(Mt 18, 5-6)

Dessa passagem extraímos duas informações: 

1. Quem acolhe uma criança em nome de Jesus presta ao próprio Jesus um serviço. Acolher em nome de Jesus pode significar, entre outras coisas, falar do nome de Jesus para a criança, acolhendo e respeitando suas particularidades. 
2. A segunda parte da fala mostra qual a gravidade dos atos que corrompem a inocência da criança e como serão cobrados aqueles que colaborarem – por sua ação ou por sua omissão – para isso.

A inocência da criança pode ser corrompida por muitos tipos de más influências (como a banalização da violência, da falta de cortesia no tratar com amigos e parentes, etc), mas vamos ao tipo mais evidente e preocupante hoje.

Diante dessas palavras da Bíblia, pergunto: 

* O que Jesus diria se perguntássemos a ele se há problema na sexualização das crianças em sala de aula? 
* De que forma ele responderia a mim, se eu lhe justificasse que meu filho teve aulas sobre sexo na escola desde os 5 anos com a minha permissão, porque “hoje em dia é assim” ou porque “agora o mundo mudou”?

Parece-me que Jesus não acharia razoável sexualizar e sensualizar crianças, “já que todo mundo faz” e "não quero que meu filho seja diferente dos outros".


“Tudo que não é eterno é eternamente inútil”
C. S. Lewis

Parece-me evidente que vimos sobre educação nesses pequenos trechos da Bíblia, dois direcionamentos se destacam: i) a obrigação dos pais de educar os filhos na fé de forma clara e guiada desde sempre; ii) a grave ofensa a Deus que é cooperar para corrupção moral de uma criança.

Existem mil justificativas para se omitir diante da corrupção dos próprios filhos. E muitas delas me parecem até razoáveis quando não se tem uma perspectiva de eternidade.

Meu filho é eterno, sua alma viverá pela eternidade. Se eu jogá-lo num caminho de perdição, ele poderá acabar perdido pela eternidade. Ainda que, pela misericórdia de Deus, contra os meus esforços, meu filho se salve, eu prestarei contas por todos os prejuízos que causei à sua alma. E talvez eternamente. 

A eternidade é bastante tempo.

A vida que vivemos dura, quando muito, uns 80 anos. A minha alma e a alma dos meus viverão para sempre. Pensemos a sério sobre isso quando escolhermos dar mais importância à matéria, a causar uma boa impressão com estranhos do que às coisas espírito e ao que durará para sempre. 

Não sejamos “ateus práticos”, que nossa fé seja uma fé viva.

Não se pode servir a dois senhores.
Quem é o seu senhor?


Comentários

Postagens mais visitadas