Educação até os 8 anos

Cada vez mais pais estão despertando para as más condições da educação escolar moderna e cada vez mais cedo. Por isso, frequentemente me perguntam como montar um currículo de pré-escola. 

Eu não pretendo montar um currículo universal aqui (até porque não existe uma criança universal), mas apenas dar critérios e indicar caminhos. 

Existem princípios e parâmetros que devem nortear a definição de uma rotina de "ensino" e de um "currículo" (se é que podemos chamar assim) de primeira infância. 

1. A idade escolar mínima estabelecida na lei brasileira, LDB, é a de 4 (!) anos de idade (e - pasmem! - há PLs da esquerda para diminuí-la para 2 anos de idade). 

A necessidade de se tirar a criança do convívio familiar e levá-la cedo à escola não surge de uma necessidade ou vantagem pedagógica. Essa necessidade surge do comprometimento do tempo da mulher no trabalho formal fora do ambiente doméstico. 

2. A idade da razão da criança - que é uma média (e nenhuma criança é "uma média") - ocorre até por volta dos 7 anos. Por isso, essa sempre foi historicamente uma idade em que a criança não deve estar submetida a extensa e rigorosa rotina formal de educação. 

Por "idade da razão" entenda-se não apenas a capacidade de abstração e de apreensão de conteúdos cognitivos formais, mas também a maturidade que permite começar a diferenciar o certo do errado. 

3. A estrutura da personalidade de um ser humano se forma até os 8 anos de idade. Assim, antes disso, a criança é altamente moldável. Ou seja, antes dos 8 anos a criança tem pouquíssima capacidade de se defender de uma educação deformadora ou das influências de um ambiente ruim. 

Portanto, ao contrário do que dizem algumas pessoas, a infância não é a idade apropriada para se conviver com gritantes diferenças de valores morais ou com situações ou diálogos que levem a grandes dilemas morais

Platão sobre o assunto:
"Não poderemos então permitir, levianamente, que as crianças escutem quaisquer fábulas, forjadas pelo primeiro que apareça. Trataremos de convencer às mães e às amas que devem contar às crianças apenas as histórias que forem autorizadas, para que lhes moldem as almas por meio das histórias melhor do que os corpos com as mãos. Será então preciso rechaçar a maioria das fábulas que estão atualmente em uso: jamais devem ser narradas em nossa cidade, nem se deve dar a entender ao jovem ouvinte que ao cometer os maiores crimes não fez nada de extraordinário; nem tampouco se deve dizer uma palavra sobre as guerras no céu, as lutas e as ciladas que os deuses armam uns aos outros, o que aliás nem é verdade. Pelo contrário, se houver meio de persuadi-los de que jamais houve cidadão algum que tivesse se inimizado com outro e de que é um crime fazer tal coisa, esse, e não outro, é o gênero de histórias que anciãos e anciãs deverão contar-lhes desde o berço, pois os meninos não são capazes de distinguir o alegórico do literal e as impressões recebidas nesta idade tendem a tornar-se fixas e indeléveis. Portanto, é da mais alta importância que as primeiras fábulas que escutarem sejam de molde a despertar nelas o amor da virtude”

4. A primeira infância, pelo próprio desenvolvimento incipiente do raciocínio infantil e pela sua ainda pequena capacidade de abstração, é uma fase de conhecimento do mundo predominantemente sensorial => o que significa, também, que a apreensão da realidade espiritual e mental deve ser estimulada gradual e constantemente, a fim de não se limitar a percepção intelectual da criança apenas aos sentidos. E não se tenha jamais isto em pequena conta. 

5. Há uma série de estímulos, hábitos e condutas (dos adultos!) que pode estimular a linguagem da criança para prepará-la para a alfabetização. Há hábitos que podem ser adotados (pelos adultos!) desde a gravidez, inclusive. Cada criança tem seu ritmo e seu interesse, mas por volta dos 4 anos a criança entra na fase da pré-alfabetização e por volta dos 6 anos entra na fase da alfabetização e do currículo formal. Há muita informação no canal do professor Carlos Nadalim no Youtube, mas eu gosto especialmente deste vídeo em que ele resume o que fará na educação da sua filha recém nascida à época.





6. A força da vontade (o autodomínio e a capacidade de obedecer e seguir regras), a afetividade, os valores morais, a vida interior (ou espiritual), os hábitos de higiene, de ordem (organização), de rotina, de sono e de alimentação, a capacidade física (força, coordenação motora, equilíbrio, reconhecimento dos sons da fala, dicção, apreciação musical), o imaginário (os recursos que alimentam e povoam a imaginação da criança e nortearão suas noções do bom, do belo e do verdadeiro) lançam e aprofundam suas raízes precisamente nesta fase. 

Note-se, portanto, que o período dos 0 aos 8 anos de idade é uma fase fundamental na formação de um ser humano e que há muito a ser feito nessa fase. E note-se também que em geral há muita coisa errada sendo feita com crianças nessa idade hoje em dia, tanto na escola quanto em casa. 

Como ter segurança de estar aplicando as técnicas corretas e de forma conveniente a cada criança? 

Manter-se continuamente estudando em fontes confiáveis - lendo livros, artigos, fazendo cursos e assistindo palestras - é o que constrói o fundamento teórico que dá segurança a quem ensina.

Não há outra forma, pois estamos inseridos num contexto de péssima formação intelectual, fomos pessimamente formados segundo métodos falhos utilizados num período decadente da história da educação. Portanto, estamos partindo de uma base fraca, quase inexistente, de modo que estaremos preenchendo lacunas da nossa educação ao mesmo tempo que tentamos dar a nossos filhos uma educação razoável. 

Sobre a prática, a rotina de ensino, não é possível extrair da criança o seu melhor, a sua riqueza escondida sem o auxílio divino. Sem a graça de Deus, aos poucos a rotina caminha para a repetição automática, fria e impessoal. 

Por isso eu creio que toda a prática de educação deve estar fundamentada sobre a vida interior do educador. Isso requer:
- Uma vida de oração, entrega à vontade de Deus e busca da santidade por parte de quem educa. Essa constante vontade de agradar a Deus fará com que a graça divina mostre os melhores caminhos. 
- Uma vida de estudo profundo sobre a alma humana, de modo a aprender a educar a própria alma e também a da criança. Isso não se faz sem recorrer aos escritos dos santos.

Portanto, de forma resumida, é preciso cuidar de estimular a criança quanto os aspectos listados no item 6, sem descuidar das observações feitas nos itens anteriores. Isso é feito mediante muito estudo e muito cuidado com a vida interior. 

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