Como montar um currículo?

Como organizar um ano de currículo escolar? 

Como montar uma grade curricular? 

Como montar um conteúdo programático?

O que pretendo aqui é mostrar como nossa família e nossos amigos têm feito essa organização, deixando dicas para interessados.

Além das informações desta postagem, dê uma olhada nas demais postagens da tag Por Onde Começar.

1. Bem, antes de mais nada, eu digo que um bom planejamento, bem feito e bem detalhado, é, no mínimo, metade do trabalho do pai educador. E, se você me disser que é uma pessoa indisciplinada e desorganizada, então eu vou além: o planejamento é muito mais importante ainda para você.

Por mais que você precise adaptar o conteúdo ou o ritmo no decorrer do semestre/do ano (e a educação em casa não faz mesmo muito sentido se o currículo não for individualizado conforme as necessidades do estudante), um planejamento bem feito é uma trilha bem traçada no chão para te dar segurança quanto ao trabalho que está fazendo. E mais, se você precisar fazer alguma adaptação, já que tem uma baliza bem definida, saberá com clareza o que exatamente precisa ser adaptado e como.

Eu realmente amo e valorizo o planejamento. Não sou nada sem um planejamento.

2. Um bom planejamento deve ser feito por meio de um bom plano de ensino. 

2.1. O plano de ensino deve ser dividido em matérias (português/matemática/inglês/culinária/artes/catequese/ciências/história/geografia...).

2.2. Para cada matéria, você deve definir os temas que serão abordados.

Por exemplo, em português, abordaremos esse ano: ortografia (s/ss/ç/sc/c - r/rr - lh - nh), verbos no modo indicativo do presente e futuro, adjetivos, substantivos.

2.3. Dentro do tema, ajuda muito a organização do educador definir os objetivos que você busca obter. Ajudará a averiguar se o que você planejou está adequado às competências e necessidade da criança.

Por exemplo, "compreender o conceito de adjetivos, decorar o conceito de adjetivo e saber dar adjetivos a pessoas e coisas".

2.4. Os planos de ensino de escolas regulares costumam definir os métodos e as formas de avaliação também. 

Embora eu não ache fundamental isso estar por escrito num plano de ensino de educação domiciliar, se te der segurança, anote tudo isso. Melhor sobrar informação do que faltar. 

Aqui cabe um parênteses... é fundamental que o pai educador tenha clareza de quais métodos está aplicando. Como a maioria não é pedagogo, é bem provável que o método seja paciência, amor, perseverança e carinho. Olha, não é pouco. Na verdade, é o mais importante. O amor descobre caminhos.

Quanto à avaliação... numa aula particular, diferente do que ocorre numa sala de 30 alunos, a avaliação pode ter um dia particular (pode ser periódica), mas normalmente ela é diária e constante. Numa sala de aula o professor não consegue acompanhar todas as atividades de todos os alunos do começo ao fim. Em casa, isso é muito mais simples.

2.5. Material ou recursos didáticos

Aqui estão incluídos os livros que você adotará, os materiais para artesanato, culinária, os vídeos que você usará, os passeios que pretende fazer.

Ainda... sobre o plano de ensino... eu acho muito importante ter registrada a organização da família não só para organização pessoal (afinal de contas, a escola também requer organização, como todo trabalho bem feito), mas para o caso de ser interpelado pelo conselheiro tutelar ou pelo Judiciário. A melhor forma de demonstrar que não existe abandono intelectual é comprovando a seriedade do que você faz.

3. Conteúdo do ensino

Como se define o conteúdo que vai no plano de ensino?

Em geral, uma família que se decide pela educação domiciliar não está satisfeita com o nível da educação das escolas. Por isso, normalmente o conteúdo que ensinam em casa é mais profundo e extenso do que o das escolas. E, consequentemente, não costuma haver nenhuma incompatibilidade com o currículo escolar regular. Pelo contrário, em geral, o currículo de homeschooling abrange bem o currículo regular.

Isso dito, vamos à prática. 

Você vai ver que quase todos as famílias educadoras dizem que você não deve tentar levar a sala de aula para a sua casa. 

Ok, é verdade, não funciona mesmo. Mas... se você está começando, eu recomendo a você que leve para a educação em casa tudo aquilo que puder te dar segurança (tendo sempre a consciência de que, com o tempo, você vai ver que muita coisa da escola não é necessária em casa e nem mesmo funciona... vá por tentativa e erro... e seja feliz!).

3.1. Passeio pelo Google

Aqui em casa, optamos por pesquisar vários livros didáticos de segundo ano (de escolas públicas e particulares), pesquisamos planos de ensino disponíveis na internet (de escolas públicas, de particulares, de sites de homeschooling americanos - recomendo o Mater Amabilis) questionamos pedagogos queridos (que nos emprestaram e deram livros <3), compramos materiais pedagógicos de segundo ano de editoras de confiança. Utilizamos toda essa pesquisa para sabermos o que mais ou menos uma criança de segundo ano tem condições de aprender nas escolas que temos em 2017.

3.2. Educação clássica

Utilizamos essa pesquisa como base. Acrescentamos os conteúdos que achamos que nosso filho deveria estar aprendendo (além do que as escolas oferecem). Aqui em casa optamos por uma aproximação com a educação clássica. Ela é nosso objetivo. 

Para isso, eu digo que você vai precisar se preparar. Quase nenhum de nós foi educado no método clássico. Há muitos livros bons sobre o assunto. Busque livros práticos sobre o tema (os teóricos te ajudarão - muito - na sua formação pessoal, mas não na organização do seu plano de ensino).

Os mais indicados pelas famílias que conhecemos são:

Ensinando o Trivium, Harvey e Laurie Bluedorn

The Well Trained Mind, Susan Wise Bauer (não confundir com The Well Educated Mind)

Designing Your Own Classical Curriculum: A Guide to Catholic Home Education, Laura Berquist

Blueprint Homeschool, Amy Knepper

Há muitos blogs americanos com muitas leituras e dicas preciosas sobre como ensinar crianças, explicando como se deve ensinar cada matéria.

4. Materiais
No Brasil nós temos um problema sério com material didático.
O nosso ensino está entre os piores do mundo. E nossos índices de educação estão caindo mais ainda, apesar dos investimentos em educação estarem aumentando. Isso nos leva à conclusão óbvia de que o problema não está na falta de investimento, mas no método de ensino utilizado.

O maior comprador das editoras do Brasil é o MEC. O MEC detalha nos seus parâmetros curriculares nacionais (PNC) o que espera encontrar nos livros que vai comprar. As editoras não querem desagradar seu maior cliente. A maioria das escolas particulares adota livros didáticos prontos, comprados diretamente das grandes editoras. 

O resultado é o que vemos: é muito difícil encontrar livros didáticos bons ou razoáveis nas edições mais recentes. 

Se você duvida, procure um livro didático do 1º ano do ensino fundamental e veja o que se ensina em história. Provavelmente, o conteúdo do primeiro ano inteiro será "família". A minha geração (que não era nenhum primor na educação, diga-se de passagem) aprendia no 1º ano uma introdução histórica e geográfica do Egito Antigo, da Grécia Antiga. No 5º ano nós retomávamos esses temas do 1º ano com uma linguagem mais madura, mais profunda e mais condizente com a idade mais avançada.

Hoje, o primeiro contato de um aluno com o Egito se dará lá pro 5º ano. A criança nunca viu um mapa do Egito Antigo e já terá q decorar inúmeros fatos sobre a matéria. Tudo de uma vez. Nada mais natural do que dar muito errado.

Por essa razão, muitas famílias educadoras garimpam em sebos e perdem bastante tempo em pesquisas na internet para moldar seu próprio material.

Há escolas online americanas que vendem livros separados e currículos inteiros para quem deseja material pronto e pode estudar em inglês.

Aqui eu retomo a importância de se preparar lendo, ao menos, um dos livros indicados no tópico 3.2, acima. Para quem tem alguma familiaridade com a educação clássica, montar um currículo de língua portuguesa e história, por exemplo, e filtrar bons materiais e livros não é algo tão complicado.

Ensinar em casa não é um bicho de sete cabeças. E não é algo que requeira uma inteligência acima da média. Mas, com certeza, é algo trabalhoso, que demanda tempo de estudo e planejamento. 


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Links úteis:
Currículo católico baseado no método Charlotte Mason (em inglês) - site Mater Amabilis, gosto muito e uso.
Seton Homeschool
Catholic Heritage Curricula
How to homeschool for free
Conteúdos programáticos do maternal ao 5º ano - site da Família de Trigo (sigam!)