*A Epopeia de Gilgamesh

Autor: desconhecido
(os posts sobre livros tem um * antes do título)


Este livro traz o mais antigo poema épico já encontrado. Partes do seu texto datam de mais de 2.000 a.C. Há nele duas referências coincidentes com relatos bíblicos: um capítulo fala de um grande dilúvio, outro menciona Nimrod, um caçador famoso que é especialmente citado no Gênesis.

O livro conta uma série de acontecimentos heroicos vividos por Gilgamesh, rei dos sumérios, e seu companheiro Enkidu. A história se passa entre o período de Noé e Abraão na região da Mesopotâmia

Recomendo a edição da Martins Fontes, pois metade das 190 páginas fala sobre os achados arqueológicos da Epopeia e seu contexto histórico e cultural, com direito a citação dos nomes dos arqueólogos e pesquisadores, das suas universidades e dos títulos dos trabalhos que publicaram. Esta introdução já é um ótimo roteiro para o educador.


Este livro tem trechos que são inapropriados para crianças. Conta-se que o povo estava insatisfeito com o governo de Gilgamesh, entre outras coisas, porque ele tomava para si as noivas da cidade na noite de núpcias. Ainda, num dos capítulos iniciais uma rameira é contratada para seduzir Enkidu e se diz que ela se desnudou, ele se deitou sobre ela, que lhe teria ensinado sobre as artes da mulher. A deusa Ishtar corteja Gilgamesh, usando palavras obcenas. Quando da morte de Enkidu, se diz que os prostíbulos sentirão sua falta. Portanto, acho que cabe a cada família avaliar a conveniência de se utilizar esse livro e de como utilizá-lo. Aqui fizemos essa leitura em família (que é feita sempre pelo adulto), então pulamos essas partes. Penso que uma boa opção seria selecionar alguns trechos previamente.

Essa leitura foi muito útil para mostrar o contexto cultural em que Deus se revelou a Abraão. Gilgamesh é da cidade de Uruk, vizinha da cidade de Ur, onde viveu Abraão em tempos posteriores. A Epopeia nos mostrou como era o culto aos deuses dos povos vizinhos dos hebreus e como o povo da época era rude e bruto. A moralidade do livro não nos serve de inspiração (ao contrário, causa um tanto de espanto). Os bons valores exaltados na história são apenas a força física, a lealdade e a coragem de Gilgamesh e Enkidu.

Essa contextualização cultural deixou claro para nós que o povo da época não teria compreendido a mensagem de Deus se ela fosse muito sofisticada. Nos permitiu enxergar a gradação da revelação divina, necessária para preparar o caminho para a revelação de Jesus Cristo na plenitude dos tempos. Também ficou claro para nós que o Deus do Antigo Testamento não era cruel (como ensinam muitos catequistas equivocadamente), mas a compreensão daquele povo rude sobre Deus era influenciada pelas suas limitações. Concluímos que, na verdade, o Deus do Antigo Testamento era amoroso e muito paciente.

Iniciamos nosso estudo sobre Mesopotâmia após lermos alguns trechos cuidadosamente escolhidos do Código de Hamurabi (inapropriado para crianças). Em seguida, estudamos a Epopeia de Gilgamesh ao mesmo tempo em que estudávamos a origem do povo hebraico, a partir da cronologia bíblica, utilizando a História Sagrada Contada aos meus Afilhados, do Daniel Rops. Penso que foi uma escolha muito acertada.


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Ressalva:
Percebo que algumas pessoas me pedem UM livro para educarem em casa, como se isso fosse suficiente. Não existe nenhum livro que encerre em si todas as suas necessidades.  Muitas pessoas querem não o "caminho das pedras" e princípios norteadores de seus estudos, mas um passo a passo mastigadinho, uma "receita de bolo" dizendo exatamente tudo o que elas devem fazer.

Não há nenhum livro de educação domiciliar nem nenhum método de educação que possa ser 100% aplicado a todos os estudantes de forma igual. Penso que todo tema de educação requeira discernimento dia pais para seu uso, pois cada criança é única e deve ser tratada segundo suas necessidades. Há princípios de educação que podem ser aplicados a todos, mas requerem uma formação ampla e constante por parte do educador, além de discernimento.

Todos os pais homeschoolers que conheço estão convencidos de que precisam preencher enormes lacunas na sua formação. E essa convicção aumenta a cada livro que leem, a cada palestra a que assistem. Não há um guia prático definitivo sobre educação em casa. A saída é o estudo contínuo.

Isto dito, espero que a leitura deste blog ajude você em sua pesquisa.
~ Sem pressa e sem pausa ~

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