Sobre a escola I

HOMESCHOOLING x ESCOLA REAL

O ensino doméstico, embora seja antigo como a humanidade, foi substituído há poucos séculos pelo ensino compulsório fornecido pelo Estado. 

A maioria dos pais que adota o ensino domiciliar no Brasil, o faz pela péssima qualidade do ensino. Por isso, é natural que a conversa sobre homeschooling se reduza, num primeiro momento, ao debate escola X homeschooling.

Existem alguns erros nessa visão que reduz o homeschooling a uma mera válvula de escape. Neste texto, vou falar apenas do primeiro.

O primeiro erro é o erro dos que apaixonadamente criticam o homeschooling apenas porque amam a escola e tudo aquilo que uma escola poderia representar e oferecer

Aqui eu vejo que, geralmente, as pessoas se põem contra o homeschooling, porque defendem um modelo de escola ideal, que não existe em lugar nenhum (é mais um sonho do que uma realidade), e que seria o grande tesouro que os homeschoolers estariam perdendo

Não existe essa escola dos sonhos, em que a socialização é maravilhosa, o ensino é personalizado, estimulante e interessante, extraindo de cada aluno seu talento único e irrepetível, respeitando seu ritmo, corrigindo seus erros de forma individualizada.

O que existe são salas abarrotadas de alunos, com professores (me compadeço deles, não são vilões na sua maioria!) que são reduzidos a ensinadores de apostilas prontas, como se fossem meros burocratas carimbadores. As crianças vêm de famílias completamente diferentes e desestruturadas, com valores diversos, há conflitos, há violência, há uma luta diária (e extenuante) dos professores para que elas façam silêncio, para que prestem atenção, para que se interessem, para que não atrapalhem os colegas disciplinados.

materiais prontos e pasteurizados, que não levam em conta o talento pessoal do professor, há professores que não leram nenhum livro de literatura ou de educação nos últimos 5 anos, há professores que não sabem dizer 5 clássicos de literatura infantil e pretendem formar o imaginário de uma criança. Há materiais horríveis, cheios de cores gritantes e desenhos confusos, que mesmo um adulto culto sente dificuldade em observar e compreender. Há atividades enfadonhas, sem sentido, textos pobres, com "enredos" sem sal, mal diagramados.

doutrinação nos materiais escolares, há enviesamento marxista, há ideologia de gênero, há politicamente correto etc.

Há alunos que apresentam dificuldades e a escola chama os pais, encaminhando os pobrezinhos para mil profissionais (pois a escola não vai dar conta de colocar esse aluno no ritmo da sala - ué...). Há alunos que estão além do ritmo da sala e a escola não pode acompanhar seu ritmo, pois não está preparada para lidar com isso também. Há um achatamento do nível acadêmico das crianças, onde os que se destacam por estar além ou aquém do nível médio são atropelados por um rolo compressor.

Há cursos de pedagogia que têm como base as falidas pedagogias modernas (muitas delas, como o construtivismo de Piaget, já foram abandonadas nos seus países de origem há mais de década) e (pasmem!) sociologia e filosofia de cunho marxista, cursos que não ensinam nada sobre como organizar uma aula, como delimitar temas e estabelecer objetivos de aula, como montar um plano de ensino, como escolher materiais, como trabalhar métodos de ensino em sala de aula, como lidar com os diferentes temperamentos das crianças ou (!!!) como alfabetizar uma criança.

Pior, há os índices assustadores do PISA, que indicam que, apesar do Brasil vir investindo mais em educação, estamos cada vez mais perto de sermos a pior educação do mundo, tanto em Português, quanto em Matemática e Ciências. Claramente estamos investindo em métodos falhos, não adianta injetar mais dinheiro.

E ainda pior que isso: há uma multidão de pedagogos que não sabe sequer o que é o PISA e que, quando questionado sobre ele, não demonstra nenhuma reação, incapaz de perceber que há algo errado com as metodologias que temos no Brasil. Não se trata de ter mais dinheiro - até porque o PISA também avalia também as escolas particulares!

Portanto, senhores, se vamos falar sobre escola, precisamos falar sobre a escola real. 

Sabemos, portanto, que hoje em dia há pessoas que têm motivos legítimos para não acharem que a escola moderna é um tesouro. Aliás, todos que estiverem informados sobre os índices de educação no Brasil, como os do PISA e do INAF, sabem que há motivos para se perder o sono.

Eu poderia passar um dia inteiro tecendo críticas à escola moderna, mas não é algo que me agrada e também acho que qualquer pessoa com percepção e inteligência medianas consegue verificar tudo isso sozinha com um pouco de sinceridade.

O que eu quero com todo esse falatório é derrubar esse mito da escola ideal, maravilhosa e perfeita. Ela não existe no Brasil.

Se alguém se propõe a criticar o homeschooling por causa de um sonho de escola que criou em seu coração, sinto muito, mas será uma tremenda perda de tempo para todos. Sei que há pessoas que estão empenhadas em tornar esse sonho realidade. E fico feliz com isso. Mas ainda não é uma realidade.

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Sobre a escola II - Contra a escola?
Sobre a escola III - Homeschooling x escola ideal

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